Educação de Adultos é relegada a segundo plano no mundo

É o que mostra o Grale 4, relatório da Unesco que aponta baixo investimento em grupos minoritários e historicamente desfavorecidos

Foto: Agência Brasil

Texto publicado em 11/02/2020

Pessoas com deficiências, idosos, refugiados, migrantes ou aqueles que vivem em zonas de conflito, ou seja, populações de grupos minoritários e historicamente desfavorecidos estão sub-representadas na Educação de Jovens e Adultos. É o que indica a quarta edição do Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (Grale 4, na sigla em inglês), lançado no mês de dezembro pela Unesco.

O relatório confirma, em termos globais, o que vem se notando no Brasil já há algum tempo: que os investimentos na educação dessas populações são insuficientes, alijando-as da possibilidade de terem mais oportunidades de vida e trabalho. No caso brasileiro, o Censo de 2019 indicou uma queda de matrículas da ordem 7,67%, comparando-se os anos de 2018 e 2019.

O Grale 4 aponta ainda que, embora a presença feminina tenha aumentado em 59% em algumas partes do mundo, as mulheres ainda carecem de acesso suficiente, em especial no que tange à educação profissional. “Como consequência, têm poucas oportunidades para desenvolver habilidades, o que as leva a ter baixas possibilidades de encontrar emprego ou serem úteis às comunidades onde vivem”, diz o relatório.

No Brasil, os homens constituem a maioria dos analfabetos na zona rural, com cerca de 55% do total, número que se inverte nas zonas urbanas, onde há mais mulheres que não sabem ler e escrever. O número total de mulheres nessa situação, porém, é bem maior, já que 84,6% da população brasileira vivia em cidades, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE, contra 15,4% que vivia no campo.

Para atacar os problemas da baixa oferta educacional para as populações sub-representadas na EJA, a Unesco recomenda o aumento dos investimentos e a criação de políticas que criem incentivos financeiros para reduzir as barreiras de acesso, em especial para as pessoas de menor renda. Aconselha, também, um trabalho de sensibilização da população e dos governos para os benefícios de toda a sociedade com o acesso à educação. É preciso, ainda, melhorar a coleta e o monitoramento de dados, para que se tenha uma noção mais precisa dos grupos desfavorecidos.

América Latina

No informe distribuído pela Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação (Clade), que analisou os dados regionais do Grale 4, constatou-se que, em geral, a região foi mais bem-sucedida ao matricular pessoas adultas na educação secundária do que na educação primária. No caso específico de América Latina e Caribe, praticamente 2/3 das pessoas matriculadas em programas de alfabetização são mulheres, sendo que no total elas representam 56% dos cidadãos analfabetos continente, o que mostra uma sub-representação masculina.

Em termos de investimento, apenas 22% das nações da região investem 4% ou mais do total de seus gastos em educação na Educação de Jovens e Adultos. Mais do que 1/3 dos países está abaixo de 1%, mostrando o quanto a questão vem sendo relegada a segundo plano.   

Cadastre-se para receber novidades por e-mail

Mantemos os seus dados privados e os compartilhamos apenas com terceiros que tornam este serviço possível.

Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

Redes Socias