Peça teatral recria o horror da tortura em prisão

Texto escrito por Tennessee Williams em 1938 mostra o tratamento sub-humano de presos, fantasma que não abandona a humanidade

Fotos: João Maria

Texto publicado em 16/10/2019, corrigido em 22/10

Inferno, um interlúdio expressionista, adaptação do texto de 1938 de Tennessee Williams, com direção de André Garolli, está de volta aos palcos paulistanos. Até o dia 31 de outubro, a montagem estará no Espaço Cia. da Revista, na alameda Nothmann, 1.135 (em frente à Funarte) em Santa Cecília, próximo ao metrô (linha vermelha), às terças, quartas e quintas-feiras, às 20h.

Numa atmosfera de sombras, fumaça e poucas luzes, feita sob medida para dar a dimensão do inferno da prisão e da sua antessala – a do corrupto diretor do presídio –, o texto original foi escrito por Williams após episódio verídico da morte de quatro presos por tortura em prisões da Pensilvânia, Estados Unidos. Depois de uma greve de fome, ficaram fechados numa cela com vapor aquecido.

Na trama, a jovem Eva (Camila dos Anjos) busca um emprego para sair de suas duras condições de pobreza nos anos 30 americanos. Para isso, aceita até trabalhar com o senhor Whalen (Fabrício Pietro), diretor do presídio cujo tratamento sub-humano dado aos presos é conhecido.

Premida por suas necessidades, ela aceita o emprego, mesmo sendo alertada por Jim (Athos Magno), auxiliar de Whalen, e pela presença de familiares que vem à procura de filhos e maridos e não os encontram.

Eva (Camila dos Anjos) e o diretor da prisão: assédio

A peça é resultado de uma longa preparação dos atores. O processo levou um ano e envolveu mais de 200 inscritos. No período, foram trabalhadas questões relativas ao universo violento retratado em cena, entre outros exercícios coletivos. Falas trazidas pelos atores foram incorporadas ao texto original. Ao final, restaram os 40 integrantes do elenco. Destaque para a atuação de Fernando Vieira como Butch O´Fallon, o líder amedrontador e “prisioneiro-chefe”, cuja ética é mais nítida que a do chefe da prisão.

O resultado mostra o retrato do que costumamos imaginar para os presídios. Uma atmosfera na qual a condição humana se esvai e o poder tem como arma uma repressão sempre crescente, com a total perda da dimensão do outro. Algo bem semelhante ao que estava para ocorrer em escala industrial pouco tempo depois de escrita a peça.

O texto ficou sumido por seis décadas, até que foi encontrado pela atriz Vanessa Redgrave e encenado em Londres, em 1998, com grande sucesso.

Butch (Fernando Vieira), líder dos presos, e Whalen (Fabrício Pietro): confronto de poderes

Ficha técnica

Inferno – um interlúdio expressionista
Texto: Tennessee Williams (1938)
Direção: André Garolli. Com Camila dos Anjos, Fabrício Pietro, Athos Magno e Fernando Vieira.
Onde: Espaço Cia. da Revista, alameda Nothmann, 1.135, Santa Cecília (perto do metrô)
Quando: às terças, quartas e quintas-feiras, às 20h. Até dia 31/10.

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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