Modelo australiano é visto como exemplo em avaliação

Fruto de um acordo nacional que estabeleceu padrões de qualidade, envolve visitas anuais às escolas e serve de referência para pais

Foto: Freepik

Quando se buscam exemplos internacionais de quem fez um trabalho consistente, tanto do ponto de vista do conjunto das políticas para a infância quanto para o papel desempenhado pelas avaliações, a Austrália é um exemplo sempre mencionado.

Segundo Daniel Santos, do Lepes, da USP/Ribeirão, “eles começaram como deveriam começar”. Primeiro houve a implantação de um currículo, a partir do qual se fez uma matriz avaliativa para os alunos da pré-escola (4 anos em diante). O processo levou três anos entre o diagnóstico inicial e o compromisso firmado em 2012 entre União e estados e territórios, esses últimos responsáveis pela implementação da política do Padrão Nacional de Qualidade.

Foram estabelecidos marcos do que seria a qualidade, expectativas de aprendizagem e marcadores de contexto. As pré-escolas passam por visitas anuais de avaliação em que esses marcadores são checados. O órgão regulador avalia processos e ambiente e atribui uma pontuação, classificando cada escola segundo os padrões nacionais, numa escala com quatro níveis, dois positivos e dois negativos.

Antes que haja uma divulgação pública desses índices, as escolas têm a oportunidade de fazer uma defesa de suas práticas ou justificá-las, e a avaliação pode ser revista. Uma vez divulgados, os índices servem para que as famílias escolham para qual unidade querem mandar seus filhos.

Cláudia de Oliveira Pimenta, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas (FCC) e mestre e doutora pela Faculdade de Educação da USP, fez um estágio na Universidade de Melbourne em 2016 e publicou em 2018 o artigo “Avaliação da Educação Infantil na Austrália: contribuições para o Brasil”  (revista Estudos em Avaliação Educacional, volume 29, 2018). Ela faz um alerta sobre um ponto, entre outros, visto em sua incursão e em que o Brasil difere muito dos australianos: a cooperação entre os entes federativos, para o bom funcionamento de uma política pública. Um fator, sem dúvida, bastante delicado por aqui.

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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