Interpretação é aquilo que hesita

A conjugação dos elementos que concorrem para a criação do sentido muda conforme um deles se altere

Foto: Aline Ponce/Iso Republic

Texto publicado em 5/11/2019

 

                Um avô diz ao neto: “Eu não comi o bolo de chocolate da vovó.”

                O neto pode entender coisas diferentes:

               

                EU não comi o bolo de chocolate da vovó. (Outro o comeu)

                Eu NÃO COMI o bolo de chocolate da vovó. (Eu sentei nele)

                Eu não comi O BOLO de chocolate da vovó. (Comi o biscoito)

                Eu não comi o bolo DE CHOCOLATE da vovó. (Foi o de maçã)

                Eu não comi o bolo de chocolate DA VOVÓ. (Comi o da mamãe)

 

                O modo como se compreende a frase depende daquilo que nossa interpretação ilumina, do contexto da interação e de quem imaginamos nos escutar.

É dito que a mensagem foi destinada a um neto, mas esse neto é uma invenção narrativa: quem a está recebendo é o leitor. Há diferença entre o receptor (uma pessoa real) e o destinatário (uma pessoa apontada pela mensagem como sendo seu alvo).

                Todo texto, toda fala, toda imagem ou símbolo é interpretado dentro de um complexo contexto de interações, podendo ter diferentes efeitos e assumir distintas conotações para os mais diversos intérpretes.

                Ser interpretado conforme se espera, sem ruído ou confusão, é um luxo raramente disponível sem esforço.

 

Fonte: Sean Hall. Isso significa isso, Isso significa aquilo. São Paulo: Rosari, 2008: 35.

 

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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