Texto publicado em 22/12/2021
Foto: Reprodução
Em novembro de 1975, em meio a uma década de grande efervescência política na Itália, com atentados terroristas feitos por grupos de esquerda e de direita, o escritor e cineasta Pier Paolo Pasolini foi assassinado violentamente, espancado até a morte. Atribuído a um garoto de programa com quem o artista teria se encontrado em Roma, Giuseppe Pelosi, o crime foi objeto de investigações jornalísticas posteriores ao inquérito. Com indícios fortes de que outras duas pessoas participaram das agressões, aventou-se inclusive a possibilidade de que fosse um crime político.
Sem dúvida, Pasolini era naquele momento um nome extremamente controverso. Um comunista que foi contra o aborto e o divórcio, tendo polemizado com grande parte da intelectualidade italiana de então, como Italo Calvino, Alberto Moravia, Leonardo Sciascia e Umberto Eco, além de nomes da política italiana como o radical Marco Panella.
As razões de Pasolini, por mais que delas se pudesse discordar, não eram a simples aceitação ou negação dessas batalhas que se tornaram ícones da Itália do pós-guerra.
Faziam parte de uma leitura histórica em que acreditava, na qual recriminava uma visão de mundo “pequeno-burguesa, fascista, democrata-cristã” “(…) de um humanismo escolástico e vulgar”, preferindo o contato com os mundos camponês, subproletário e operário, que julgava ainda autênticos em seu atraso e menos permeáveis ao desenvolvimento e à acomodação, ao conformismo hedonista daqueles que viam o país com bons olhos a integração do país a valores que julgava fossem aqueles da cooptação absoluta.
Os argumentos acima estão em um artigo escrito para o Paese Sera, em 8 de julho de 1974, tendo como título original “Lettera aperta a Italo Calvino: quello che rimpiango [Carta aberta a Italo Calvino: do que tenho saudade]. Ou na nova edição dessa reunião de textos, Escritos corsários, publicada pela Editora 34 em 2020, “Exiguidade da história e imensidão no mundo camponês”. Com acréscimos, a nova edição revisita textos de Os jovens infelizes – Antologia de ensaios corsários, publicada pela Brasiliense em 1990, agora acrescida de vários outros textos.
Ao falar dos jovens de então – aliás, já a partir de 1968 – Pasolini lamentava o que julgava ser um processo de padronização, pelo qual não era mais possível distinguir por meio da roupa que trajavam ou de seus signos corporais, se se tratavam de jovens fascistas ou comunistas.
Agora, 60 anos depois do lançamento de Accattone, um filme sobre uma juventude de periférica de características bem marcadas, a leitura dos escritos corsários merece uma revisita, assim como as imagens rodadas nas “borgate” romanas, sempre com o auxílio de seu então assistente de direção, Bernardo Bertolucci. Destaque para a excelente tradução de Maria Betânia Amorosa, também responsável por apresentação e notas.
Escritos Corsários (Editora 34, 2020)
Autor: Pier Paolo Pasolini
Prefácio: Alfonso Berardinelli
Tradução, apresentação e notas: Maria Betânia Amoroso