Foto: Heinrich Hoffmann
Texto publicado em 15/04/2020
O anúncio da televisão promete mostrar um grande homem. Veremos em um minuto o líder em pose estadista, o rosto de lado e ar altivo de quem constrói o destino. Mas, de imediato, não é possível reconhecer um rosto. A imagem está informe e opaca, congestionada por pontos imensos. Os pontos traçam suave movimento de redução, aproximando-se uns dos outros até o retrato se definir. Enquanto isso, o locutor descreve o estadista.
“Este homem pegou uma nação destruída. Recuperou a economia e devolveu o orgulho a seu povo. Em seus primeiros quatro anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar. Aumentou o lucro das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de marcos. E reduziu uma hiperinflação a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura. E quando jovem imaginava seguir a carreira artística.”
A cada frase dita, mais nítida fica a imagem… de Hitler. Ao fim da locução, o retrato do Führer está nítido e sobre ele carimba-se a conclusão: “É possível construir uma mentira só dizendo a verdade”. A peça publicitária Hitler leva o pensamento por um caminho até mudar as coordenadas, iluminando outro caminho então oculto.
Fonte: Nizan Guanaes. Hitler. Dir. arte Gabriel Zellmeister; dir. criação Washington Olivetto. São Paulo: Folha de S.Paulo-W/GGK, 1988. https://bit.ly/34E5QOt