A seleção dos fatos cria novas “verdades”

A simples organização do discurso pode embaralhar os fatos de maneira a criar uma “verdade” que seja exatamente o oposto daquela que teríamos o direito de conhecer

Foto: Heinrich Hoffmann

Texto publicado em 15/04/2020

O anúncio da televisão promete mostrar um grande homem. Veremos em um minuto o líder em pose estadista, o rosto de lado e ar altivo de quem constrói o destino. Mas, de imediato, não é possível reconhecer um rosto. A imagem está informe e opaca, congestionada por pontos imensos. Os pontos traçam suave movimento de redução, aproximando-se uns dos outros até o retrato se definir. Enquanto isso, o locutor descreve o estadista.

“Este homem pegou uma nação destruída. Recuperou a economia e devolveu o orgulho a seu povo. Em seus primeiros quatro anos de governo, o número de desempregados caiu de 6 milhões para 900 mil pessoas. Este homem fez o produto interno bruto crescer 102% e a renda per capita dobrar. Aumentou o lucro das empresas de 175 milhões para 5 bilhões de marcos. E reduziu uma hiperinflação a no máximo 25% ao ano. Este homem adorava música e pintura. E quando jovem imaginava seguir a carreira artística.”

A cada frase dita, mais nítida fica a imagem… de Hitler. Ao fim da locução, o retrato do Führer está nítido e sobre ele carimba-se a conclusão: “É possível construir uma mentira só dizendo a verdade”. A peça publicitária Hitler leva o pensamento por um caminho até mudar as coordenadas, iluminando outro caminho então oculto.

Fonte: Nizan Guanaes. Hitler. Dir. arte Gabriel Zellmeister; dir. criação Washington Olivetto. São Paulo: Folha de S.Paulo-W/GGK, 1988. https://bit.ly/34E5QOt

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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