Cinemateca Brasileira: ministro promete solução

Ministro e novo secretário especial de Cultura, Mário Frias, se reuniram com diretoria da Acerp; trabalhadores da Cinemateca, no entanto, ainda não tiveram contato direto com representantes da Roquette Pinto

Foto: Portal Vila Mariana

Texto publicado em 23/06/2020. Acréscimos feitos em 24/06.

Depois de reunião com representantes da Acerp (Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto), o ministro Marcelo Ângelo Antônio, do Turismo, divulgou nota, via assessoria de Comunicação, em que sinaliza a intenção de sua pasta de solucionar o caso da Cinemateca Brasileira. Gerida pela Acerp até dezembro de 2019, a Cinemateca está parada, com os funcionários – vinculados à organização social gestora – em greve, sem receber salários desde abril. Há débitos com a empresa fornecedora de energia na casa dos R$ 500 mil.

Os trabalhadores da Cinemateca, no entanto, permanecem em greve. Em comunicado postado em sua página no Facebook nesta terça, 24/06, eles informam que não foram comunicados acerca da conversa pela diretoria da Acerp, que recebeu e se reuniu com os representantes do governo federal. “Mais uma vez, não tivemos qualquer resposta da diretoria da Acerp quanto ao resultado final desse encontro. Esperávamos, enfim, um desfecho minimamente positivo”, diz a nota.

Desde 2018, a Cinemateca, vinculada à Secretaria do Audiovisual, está sob responsabilidade da Acerp, fruto de um adendo ao contrato que esta mantinha com o Ministério da Educação para a gestão da TV escola. No final de 2019, o contrato entre Acerp e MEC acabou e o governo não quis renová-lo. A Cinemateca, cuja situação jurídica tornou-se incerta, ficou formalmente sem gestor responsável.

Como o governo já estava em atraso nos repasses desde meados de 2019, seu passivo com a Acerp, que assumiu os pagamentos até abril, é grande. A verba anual da Cinemateca é de R$ 13 milhões.

Mas os comentários pós-reunião desta terça, 23/06, vieram eivados de positividade e esperança de soluções. O ministro foi acompanhado do novo secretário especial de Cultura, Mário Frias, substituto da atriz Regina Duarte na pasta. Ao final declarou que a intenção é “restabelecer a Cinemateca e dar vida nova à instituição. Podem ter certeza que, junto com o novo secretário de Cultura, estamos fazendo de tudo para resgatar e resolver o impasse dessa instituição tão importante para o Brasil e para o mundo”. Frias acrescentou que a questão reside em como formalizar a relação entre governo e Acerp. “Queremos a solução, tudo dentro da legalidade”.

O vereador Gilberto Natalini (PV), que vem acompanhando o impasse e foi um dos articulares de uma audiência pública realizada na Câmara Municipal de São Paulo na quinta-feira, 18/06, manteve contato com os representantes da Acerp após o encontro e relatou que eles saíram esperançosos. “Disseram que foi uma boa reunião e que o ministro ficou de apresentar uma proposta, provavelmente na próxima semana”.

Natalini foi responsável pela gestão informal junto à Enel, fornecedora de energia elétrica que havia dado prazo até dia 26 de junho para que os atrasados fossem acertados, para que revissem a posição. Se houvesse um corte de energia, boa parte do acervo (os filmes de acetato) corria o risco de entrar em decomposição, pois são guardados em locais com temperatura e umidade controladas. Outra parte, a dos filmes em nitrato, precisa ser mantida também com temperatura e ventilação adequadas, caso contrário pode entrar em autocombustão.

A Cinemateca Brasileira é um equivalente, no campo audiovisual, ao que a Biblioteca Nacional significa para as letras. Ali, estão depositados os filmes mais antigos que resistiram produzidos no Brasil, o mais velho deles, de 2013, Os óculos do vovô. É o maior acervo audiovisual da América do Sul. Estão sob a sua guarda, também, coleções documentais diversas, como as dos críticos Paulo Emilio Sales Gomes, seu fundador, e Francisco Luiz de Almeida Salles, presidente do Conselho durante muitos anos, e as dos cineastas Glauber Rocha e Carlos Reichenbach, entre outros.

Os funcionários que trabalham na Cinemateca, hoje ligados à Acerp, aguardam que o otimismo da reunião entre autoridades federais e dirigentes da OS se traduzam o quanto antes no acerto dos salários atrasados e na estabilização básica das condições para que possam voltar a cuidar do acervo. No entanto, demonstram incômodo pelo fato de terem notícias apenas por meio dos veículos de comunicação.

“Sem uma informação oficial confirmando esse futuro da instituição, o que de certa forma nos traria certo alento, o que se vê na prática é que o destino da Cinemateca Brasileira e de seus 62 trabalhadores segue indefinido”, diz a nota, que também informa que o grupo está sem receber salário e benefícios já há três meses, situação que também se estende aos trabalhadores da TV Escola. 

Cadastre-se para receber novidades por e-mail

Mantemos os seus dados privados e os compartilhamos apenas com terceiros que tornam este serviço possível.

Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

Redes Socias