Marcello Casal Jr./Agência Brasil

É preciso criar estratégias para atrair alunos para a docência

Desinteresse de jovens tem aumentado. Reverter o quadro requer ações que criem vantagens para a escolha da profissão

Foto: Marcelo Casal Jr./Agência Brasil

Um dos problemas que vêm se tornando crônicos no Brasil é a baixa atratividade da carreira, consequência óbvia da desvalorização docente. Quase a metade dos professores (49%) não recomendariam a profissão a um jovem, segundo pesquisa realizada em 2018 pelo Ibope a pedido do Todos pela Educação. Apenas 2,5% dos jovens brasileiros desejam escolher a docência na educação básica, segundo estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também de 2018. Dez anos antes, esse percentual era três vezes maior.

Essa falta de motivação, no entanto, não é um fenômeno apenas local. Para revertê-la outros países passaram a adotar ações de estímulo à docência já no ensino médio. O caso mais próximo ao Brasil é do Chile, onde foi aprovada em 2016 uma lei com vistas à criação do sistema de desenvolvimento profissional docente. Um ano depois, foi lançada uma grande campanha na TV e outros meios para atrair os jovens. Batizada de “Professores, a profissão mais importante do Chile”, trazia uma imagem positiva de professores em filmes publicitários de um minuto, acompanhada de incentivos financeiros para graduandos e mesmo para alunos do ensino médio.

A ação, por sinal, é uma das quatro contempladas no plano “Quero ser Professor”, encaminhado ao então ministro da Educação, Aloizio Mercadante, pelo hoje membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos. A proposta, no entanto, já passou pela mesa de outros ministros e resta como opção a ser adotada. Especialistas como Bernardete Gatti e Fernando Abrucio já foram convidados a ir ao CNE para conversar sobre aspectos contemplados na iniciativa.

O primeiro dos pilares de Mozart Ramos é justamente a concessão de bolsas para alunos do ensino médio que seriam incorporados aos grupos que constituem o Pibid, a experiência formativa mais bem avaliada entre educadores de diversos matizes. Os jovens do médio já estariam conectados com suas áreas de interesse, podendo chegar à universidade com formação mais robusta.

A segunda medida seria o deslocamento da formação para institutos direcionados a essa função, que incorporariam as licenciaturas todas, além de categorias excepcionais de docentes, como aqueles com vinculação durante um período, que seriam certificados especialmente para dar aulas.

Partindo da realidade do professor que hoje está na escola, haveria também uma certificação pós-graduanda, voltada àqueles que precisam complementar aspectos da formação inicial segundo os parâmetros de uma formação mais integral para a docência.

E, por fim, um quarto pilar voltado às novas tecnologias, principalmente às plataformas adaptativas e ao novo horizonte da Inteligência Artificial, que irá requerer mudanças de perspectiva aos docentes.

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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