Foto: Aline Ponce/Iso Republic
Texto publicado em 5/11/2019
Um avô diz ao neto: “Eu não comi o bolo de chocolate da vovó.”
O neto pode entender coisas diferentes:
EU não comi o bolo de chocolate da vovó. (Outro o comeu)
Eu NÃO COMI o bolo de chocolate da vovó. (Eu sentei nele)
Eu não comi O BOLO de chocolate da vovó. (Comi o biscoito)
Eu não comi o bolo DE CHOCOLATE da vovó. (Foi o de maçã)
Eu não comi o bolo de chocolate DA VOVÓ. (Comi o da mamãe)
O modo como se compreende a frase depende daquilo que nossa interpretação ilumina, do contexto da interação e de quem imaginamos nos escutar.
É dito que a mensagem foi destinada a um neto, mas esse neto é uma invenção narrativa: quem a está recebendo é o leitor. Há diferença entre o receptor (uma pessoa real) e o destinatário (uma pessoa apontada pela mensagem como sendo seu alvo).
Todo texto, toda fala, toda imagem ou símbolo é interpretado dentro de um complexo contexto de interações, podendo ter diferentes efeitos e assumir distintas conotações para os mais diversos intérpretes.
Ser interpretado conforme se espera, sem ruído ou confusão, é um luxo raramente disponível sem esforço.
Fonte: Sean Hall. Isso significa isso, Isso significa aquilo. São Paulo: Rosari, 2008: 35.