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Uma experiência que gerou muito confronto, muitas reações contrárias e cujos resultados acabaram não sendo aproveitados para melhorar as políticas públicas relativas à primeira infância.
Esse é um resumo do saldo da implantação de um instrumento de avaliação de desenvolvimento infantil na rede pública da cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 2009 e 2014, segundo o pesquisador Daniel Santos, um dos coordenadores do Laboratório de Estudos e Pesquisas de Economia Social, o Lepes, da Faculdade de Economia e Administração da USP de Ribeirão Preto.
Daniel fazia parte da equipe inicialmente liderada por Ricardo Paes de Barros, economista proponente do Bolsa Família, que deixou o time após ser convidado a integrar a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, na gestão Dilma Rousseff (PT).
A então secretária de Educação do Rio, Cláudia Costin, que havia integrado o ministério de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o governo paulista de José Serra (PSDB), havia assumido a convite de convite de Eduardo Paes (PSDB). Com reputação de boa gestora, Cláudia enfrentou resistência de educadores cariocas ao tentar introduzir avaliações em larga escala e pautar a introdução de suas políticas por diagnósticos que adviessem dessas medições.
A introdução de uma avaliação que medisse o desenvolvimento da criança, no entanto, foi um ponto acima da curva do que era feito no Brasil. O instrumento utilizado foi o Ages and Stages Questionnaire (ASQ), que avaliava, por meio de questionários, crianças individualmente em relação a cinco aspectos: motricidade fina; motricidade ampla; resolução de problemas; comunicação e pessoal/social (interações e comportamentos).
Na rede do Rio de Janeiro, cerca de 40 mil crianças de 0 a 3 anos, alunos de creches, foram avaliadas durante três anos, constituindo a maior avaliação de larga escala para a etapa no Brasil no campo da educação.
“Foi a primeira grande fotografia comparável obtida no Brasil. É um instrumento usado comumente na área da saúde e na educação em outros países. Em Washington, o ASQ é utilizado para monitorar as redes”, diz Santos. Mas ele mesmo admite uma série de erros de implementação no caso do Rio de Janeiro.
“Para você ter uma ideia, houve um debate com todo mundo que era contrário ao projeto na mesma mesa”, lembra. Isso fez com que não se pudesse rebater os pontos contrários individualmente. Houve, também, muita demora para que o instrumento ficasse pronto e se tornasse público. Isso alimentou uma série de fantasias a respeito do que seria feito.
Em termos do que foi aferido, verificou-se que, em média, as crianças da rede estavam um pouco abaixo do padrão norte-americano. E também que estavam acima em termos de motricidade ampla. Porém, nada foi feito em termos de mudança de práticas em função desses resultados.
Cláudia Costin deixou a Secretaria de Educação em 2014 por ter sido escolhida para comandar uma diretoria no Banco Mundial. No entanto, ela se candidatou ao cargo depois de um longo período de confronto com a rede e uma greve que durou muito tempo.
Contatada para falar sobre o período, Costin não respondeu por não estar no Brasil.