“Com a BNCC, não haverá excesso cognitivista”, diz Maria Helena Castro

Gestora no MEC quando o documento foi aprovado, conselheira do CNE cita exemplo de outros países sobre avaliação

Foto: Portal MEC 

Apesar da ressalva de que não é especialista em avaliação da educação infantil, a professora Maria Helena Guimarães de Castro diz que as redes que se pautarem pelos documentos legais que orientam a etapa, como a Base Nacional Comum Curricular, “não incorrerão em nenhum excesso cognitivista”.

Atual membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e grande responsável por introduzir no Brasil as avaliações nos anos 1990, quando presidiu o Inep na gestão de Paulo Renato Souza à frente do MEC, Maria Helena ressalta, no entanto, que há uma tendência de avaliar não só o ambiente, mas também a aprendizagem da criança.

“Vejo principalmente pesquisas de observações qualitativas, principalmente na pré-escola, para ver como a criança está sendo estimulada, desenvolvendo a coordenação motora, a comunicação oral, a capacidade de fala, como ouve e reproduz histórias”, diz, citando países como Canadá, Portugal e outros europeus que “estão desenvolvendo estratégias de avaliação com uma lente de qualidade, a partir do desenvolvimento da criança”.

Maria Helena ressalta que essa é uma questão que divide muito o campo educacional. Ao mesmo tempo que defende que se avalie a criança, sublinha que é uma etapa que deve preservar especificidades. “É importante preservar diferentes abordagens pedagógicas, sem imposição de método ou de idade.”

Mas ressalva que é importante que as crianças estejam preparadas para a alfabetização ao entrarem no ensino fundamental. E que isso pode ser feito de forma adequada, com uso da oralidade. Como aqueles que defendem a alfabetização já no segundo ano do fundamental, ela crê que dar aos alunos de escolas públicas um processo mais longo irá prejudicá-los, dificultando o desenvolvimento futuro.

Implícito em sua fala está o fato de que é imprescindível preparar melhor os docentes da pré-escola, para que cumpram a função de distinguir os limites da etapa no trabalho com a linguagem e de estimular a imaginação da criança e sua compreensão do mundo no trabalho com as narrativas. 

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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