Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Publicado em 9/10/2019
Três associações de jornalistas – a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a Associação dos Jornalistas de Educação (Jeduca), e a organização Jornalistas Contra o Assédio – emitiram nesta quarta-feira, 9, nota de repúdio a uma postagem do ministro Abraham Weintraub no Twitter.
Decorrência de uma matéria publicada na tarde de segunda-feira, 7, pelo site do jornal O Estado de S.Paulo (“Ministro entrega ônibus escolares comprados na gestão anterior e diz fazer ‘muito com pouco”), a postagem tratava de forma depreciativa a repórter e seu trabalho, sem dizer o que motivou o comentário. A atitude gerou agressões à profissional em redes sociais.
No evento, como de hábito, o ministro instou os presentes a tomarem ciência das respectivas ignorâncias ao fazer explanações acerca de suas requintadas teorias sobre ensinagem e famigleria.
Sobre a primeira, aliás, o ministro vem dando provas de sua indubitável capacidade industrial desde que, ao anunciar a colossal versatilidade de suas planilhas, reduziu um custo/aluno de R$ 0,71 a R$ 0,07, numa mágica que não se sabe se suprimiu zeros, alunos ou a aritmética.
Mais recentemente, ao passar a defender a ensinagem, atribuiu o processo menor da educação (aquilo de aprender a escovar os dentes e dizer bom dia e muito obrigado) às cercanias da família (não explicou se só àquelas das pessoas de bem). Estas, sem a noção clara de suas atribuições, apenas agradeceram. Continuarão a alimentar estatísticas como as do Sistema Único de Saúde, que indica que, de cada dez casos de violência contra crianças e adolescentes, sete ocorrem dentro de casa, no seio das sagradas e de seus agregados.
A seguir a nota assinada pelas associações:
Desde a noite de segunda-feira (7.out.2019), a repórter Isabela Palhares recebe em suas redes sociais mensagens agressivas e ofensas misóginas, provocadas por uma postagem do ministro da Educação no Twitter. Ele reclamou da reportagem “Ministro entrega ônibus escolares comprados na gestão anterior e diz fazer ‘muito com pouco’”, de autoria de Isabela. Na tentativa de desqualificar a repórter, Abraham Weintraub escreveu entre aspas sua atividade (“jornalista” e “jornalismo”), colocando em dúvida seu profissionalismo. O ministro tem direito de não gostar de uma reportagem e de criticar o autor ou a autora. No caso em questão, porém, não se trata de crítica, mas de ataque e tentativa de intimidação em uma plataforma pública.
Weintraub não contesta informações da reportagem; limita-se a desqualificar a jornalista. Ao identificá-la diretamente, deu instrumentos para que seus simpatizantes encontrassem seus perfis em redes sociais e a assediassem.
A Abraji, a Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e a organização Jornalistas Contra o Assédio manifestam solidariedade a Isabela Palhares e repudiam a ironia feita pelo ministro Abraham Weintraub. Ataques pessoais a jornalistas e tentativas de desqualificar o trabalho da imprensa são expedientes antidemocráticos e agridem o direito à informação de toda a sociedade.