Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Texto publicado originalmente em 16/12/2019
A área de linguagens seria o itinerário escolhido pelo maior percentual de alunos (21%) se eles fossem fazer a opção no momento em que responderam à pesquisa “Nossa Escola em (Re)Construção”, levantamento do Porvir em parceria com a Rede Conhecimento Social, que ouviu 258 mil jovens entre 11 e 21 anos em todo o Brasil. A seguir, 15% escolheriam algum itinerário técnico-profissional, e outros 15% não saberiam ainda fazer sua escolha. Completando a relação, 14% escolheriam ciências da natureza, 14% optariam pelo itinerário integrado (com disciplinas de mais de uma área), 11% iriam para a matemática e 10% para a área de ciências humanas.
Entre os fatores que os jovens mais levariam em conta para a escolha estariam a área da faculdade que gostariam de cursar (24%), o interesse por um conhecimento específico (21%), a preparação para o Enem e o vestibular (19%) e a afinidade com a área em que querem trabalhar (17%).
Combinadas, essas duas respostas devem causar certa apreensão naqueles que apostaram todas as suas fichas na oferta de itinerários técnico-profissionais para trazer sentido à continuidade dos estudos pelos jovens. Apesar de ser uma das segundas opções escolhidas, o índice de 15% não parece exatamente representar uma mudança muito significativa. Hoje, as matrículas na educação profissional respondem por cerca de 8% do total do ensino médio, contra uma média próxima aos 50% nos países europeus.
A faculdade continua a ser um símbolo de ascensão para o jovem no Brasil, e o diploma universitário um objeto de desejo. Como os cursos técnicos são menos ofertados e conhecidos, será preciso investir não só em sua qualidade e divulgação. Há, ainda, muita incerteza em função de quais serão os parceiros das escolas, quantas horas de ensino presencial haverá efetivamente e quais serão os critérios de notório saber, a serem definidos pelos estados, para os professores sem formação pedagógica que lecionarão as disciplinas técnicas.
Hoje, em especial a rede federal de Institutos Tecnológicos (ITs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) são muito concorridos, inclusive por alunos de classe média. Muitos deles pelo fato de que essas escolas, mais seletivas, com professores mais bem remunerados e com dedicação exclusiva, oferecem uma base melhor para quem quer passar em vestibulares mais difíceis e concorridos. Dessa forma, acaba ocorrendo uma inversão: os espaços que deveriam formar para um ingresso mais rápido e qualificado para o mundo do trabalho servem como preparo para a faculdade.
Para Tatiana Klix, diretora do Porvir, há muita preocupação entre os jovens que estão na escola de chegar ao ensino superior. “Eles estão muito preocupados com isso. Não querem se restringir a fazer um itinerário técnico e ir direto trabalhar, a maioria quer ir para uma faculdade”, diz.
Além da questão de comunicar adequadamente o que são os cursos técnicos, quais as possibilidades de trabalho e de continuidade dos estudos serão oferecidas a quem os cursar, é preciso também que gestores de área se fixem numa questão fundamental: a linguagem e o discurso mais adequado para convencer os possíveis futuros alunos a ingressarem em seus cursos.
Atentos às demandas do mercado de trabalho, eles têm utilizado um discurso bastante voltado à empregabilidade imediata, às necessidades de crescimento do país, fazendo com que muitos jovens se vejam apenas como mão de obra necessária, contrapondo essa possibilidade aos sonhos que pulsam dentro deles. Para que o médio técnico dê certo, além de realmente abrir a possibilidade de continuidade posterior dos estudos, será preciso não só encontrar uma linguagem mais adequada à comunicação com o público que se quer conquistar, mas também saber escutá-lo, para saber o que pode de fato seduzi-lo.