Foto: History of all times
Texto publicado em 21/05/2020
O francês François-Marie Arouet de Voltaire (1694-1778) jamais criou a frase que ajudou a fazer sua fama em gerações recentes: “Desaprovo o que você diz, mas lutarei pelo direito de dizê-lo.” Como profissão de fé do estatuto democrático, cravada nas bases liberais do Iluminismo, a sentença se tornou lapidar. Mas é invenção do século XX. Precisamente, da biógrafa Evellyn Beatrice Hall (1868-1919). Em The friends of Voltaire (1906), ela se refere à ideia que o filósofo expressava, a atitude que o descrevia.
Winston Churchill (1864-1965) levou o crédito, mas não é dele a expressão “sangue, suor e lágrimas”. Ele a tirou de Lorde Byron, que a leu em John Donne. Em maio de 1940, Churchill anunciou os anos seguintes como de “privações, sangue, suor e lágrimas”.
Estudioso de Gregório de Matos e Guerra (1636-1695), James Amado (1922-2013), irmão de Jorge Amado, dizia que pouco importava se os versos atribuídos ao poeta eram de fato dele, mas que o século XVII chegou a nós por uma poesia da época chamada Gregório de Matos. Significa crer que palavras têm vida própria e um efeito maior do que quem as enuncia.
O físico Niels Bohr (1885-1962) dizia que o contrário de uma declaração correta é uma declaração falsa, mas o inverso de uma verdade profunda pode bem ser outra verdade profunda. O discurso tem uma grandeza que dispensa o enunciador, extraímos da sentença de Bohr. Se é que a frase é dele mesmo.
Fonte: Richard Shenkman. Lendas, mitos e mentiras. São Paulo: Ediouro, 2005.