Um idioma navegante

Pílulas da língua portuguesa (3): os mares que levaram suas marcas

Foto: Picography/Iso Republic

Texto publicado em 20/01/2020

A expansão do idioma português na era das navegações foi tanto militar como comercial, à força de religião e de exploração territorial.

O português circundou a África, foi à China e Japão, à Índia e América.

Língua de marinheiros no Atlântico e no Índico, foi o idioma de viagem e comércio na América brasileira e nos litorais e ilhas da África e do sul da Ásia.

O idioma influenciou reinos africanos, como Congo e Warri, línguas como iorubano e japonês, marcou vocabulários e sintaxes do papiamento e do iorrobo.

Provocou a criação de outros idiomas, como os crioulos de Cabo Verde, Casamansa, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe.

Chegou a ser língua franca nas regiões do trajeto medieval até as Índias.

Os holandeses, que herdaram esse comércio, por tempos aceitaram o idioma franco: pastores protestantes enviados a ultramar, por exemplo, eram obrigados a aprender português por um ano após sua indicação.

O povo português floresceu nas misturas muitas.

Sua tradição foi a de integrar-se à paisagem, a climas, crenças e povos que dominou. E, exceção feita às barbáries tributáveis à imbecilidade nunca exclusiva a um único povo, o fez sem maiores tremeliques.

Aderiu à mistura e à exploração das discórdias tribais para dominar colônias mais populosas que o invasor: no auge da epopeia ultramarina do século XVI, Portugal era pouco povoado – 1 milhão de habitantes, não muito mais.

Era gente impetuosa ante os chamados de além-mar, melancólica com a difícil aventura marítima, mas enfática, que não dá viagem perdida.

Seus descendentes herdaram certo olhar para além da pele, rico num conformismo cioso das aparências, que é parente da hipocrisia, mas faz sobreviver a ambientes hostis. Esse povo aprendeu a ser cético, sonso e maleável diante da adversidade.

Afinal, ante o excesso de verdades constitui tolice crer em apenas uma.

 

Fonte: Nicholas Ostler. Empires of the word: a language history of the world. New York: Harper Perennial, 2005.

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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