Fundeb entra em contagem regressiva

Fundo da educação básica, que termina em dezembro, precisa ser renovado antes que o período eleitoral ameace sua vigência em 2021

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Texto publicado em 20/01/2020 e corrigido em 21/01/2020

À espera do início do ano legislativo  que começará no início de fevereiro, o setor educacional aguarda com aflição o desenrolar da renovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o Fundeb, que vence no final de 2020. Aprovado em 2006 e em vigência desde 2007, o Fundeb é a principal fonte de financiamento da educação básica brasileira, sendo responsável por algo entre 60% e 65% do que é investido nas etapas e modalidades que a compõe: educação infantil, ensino fundamental 1 e 2, ensino médio, Educação de Jovens e Adultos e educação especial.

A maior preocupação entre aqueles que há tempos vêm trabalhando na proposta de emenda constitucional para tornar o fundo permanente é a posição do Ministério da Educação, que no final do ano passado sinalizou que pretende enviar ao Congresso uma proposta própria. Essa proposta seria formulada pelo MEC e enviada pela Presidência da República, pois o ministério não tem competência legal para fazê-lo.

A iniciativa foi anunciada pelo ministro Abraham Weintraub, que se disse frustrado desde que a deputada Dorinha Seabra (DEM/TO) anunciou a nova proposta de redação para a PEC 15/2015, de que é relatora, atualmente tramitando na Câmara dos Deputados. Para a deputada, seria uma grande falta de respeito com o Legislativo e com estados e municípios que dependem do instrumento recomeçar o processo depois de cinco anos de tramitação e composição com autores de outras propostas que tramitam no Senado.

O ponto central de discordância é o percentual de aumento da contribuição da União, hoje na casa dos 10%, o que equivaleu a RS 14 bilhões em 2019. Desde que o fundo foi instituído, o percentual é considerado baixo e há expectativa de que a União possa assumir valores maiores. Na proposta da deputada Dorinha, haveria aumento escalonado, já a partir de 2021, de 2,5 pontos percentuais por ano, até que se atingisse 40% do total do fundo. A deputada encampou a proposta da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que faz suas projeções com base no Custo Aluno Qualidade inicial (CAQi), valor per capita correspondente ao que seria necessário para que tivéssemos uma educação de qualidade.

Já o movimento Todos pela Educação advoga um aumento de 5 pontos percentuais, também escalonados, à razão de 1 ponto percentual por ano, e revisão dos valores em 10 anos, de acordo com a situação fiscal do país. Outro ponto, que não parece ser o grande impeditivo para que se feche um acordo, é uma mudança na distribuição das verbas, que, segundo o Todos pela Educação, precisa buscar mais equidade, pois há municípios com boa arrecadação em estados pobres que recebem complementação equivalente àqueles que pouco ou nada arrecadam.

O mecanismo proposto pelo Todos pela Educação não é endossado pela Campanha, que reivindica a manutenção dos valores para os municípios que arrecadam mais e o aumento para aqueles que estão em situação pior (Para ver com detalhes a diferença entre as propostas, leia entrevista com representantes das duas instituições).

Na semana passada, o Instituto Rui Barbosa, órgão que congrega os tribunais de contas de todo o país, manifestou a preocupação de que o reinício dos trabalhos legislativos para examinar uma nova proposta possam inviabilizar o processo.

Um dos maiores receios dos parlamentares envolvidos com a questão é de que a proposta do governo gere um atraso na aprovação do fundo, em função de que 2020 é um ano eleitoral. Portanto, se a questão não estiver decidida até 17 de julho, início do recesso de meio de ano, ou mesmo antes disso, há o temor de que o novo Fundeb não seja votado neste ano, o que levaria a educação brasileira ao caosem 2021, pois o repasse de mais da metade de suas verbas seria interrompido.

Pela forma destrambelhada com que governo e, principalmente, o ministro da Educação conduzem a área, o anúncio de uma PEC vinda do Legislativo parece mais um artifício para que prevaleça o aumento de 5 pontos percentuais na participação da União, passando de 10% para 15%.

Questionada pela segunda vez sobre o teor da proposta – a  primeira foi no final do ano passado – pelo site, a Assessoria de Comunicação do ministério respondeu apenas que “O MEC está contribuindo com o governo para a nova proposta do Fundeb e defende o aumento do montante de recursos para a educação básica e o aprimoramento dos critérios de distribuição”.

Dias antes, em 9 de janeiro, Weintraub disse à Agência Brasil que, para que os recursos sejam aumentados, exigirá contrapartidas. “É um aumento expressivo. Além de aumentar o volume de recursos, cobraremos resultados para receber esses recursos. Estados e municípios terão que adotar critérios de desempenho e mostrar resultados”.

Seria um enorme tiro no pé deixar que o Fundeb não fosse renovado até o final do ano. Mas, ao que parece, se puder conturbar o processo e adiar o máximo possível a definição, o MEC atenderia à estratégia de muita espuma para pouca água, o que tenderia a fazer com que a oposição aprovasse percentual mais baixo de repasse da União para que o fundo não sofra interrupção. A verificar.

Por ora, o ministro está empenhado em explicar como o “provável melhor Enem da história” foi alvo de uma “engasgada” na gráfica vencedora da licitação, causando insegurança nos mais de 4 milhões de estudantes que fizeram a prova.

 

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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