Jovens e adultos: queda chega a 7,67%

Principal redução das matrículas foi em redes estaduais (10,8%); de 2008 para cá, temos 33,7% menos matrículas em EJA no país (1,67 milhão)

Foto: CNM

Texto publicado em 02/02/2020

Depois de passar cinco anos (de 2014 a 2018) oscilando entre os 3,5 milhões e os 3,4 milhões de matrículas, a Educação de Jovens e Adultos voltou a registrar uma queda mais acentuada no total de alunos atendidos em 2019. Esse total passou de 3,54 milhões em 2018 para 3,27 milhões em 2019, uma queda de 7,67%. No ano anterior, a queda registrada foi de 1,47%.

Os números são mais preocupantes em função de duas razões: quando olhado um arco maior de tempo, de 2008 a 2019, a queda de matrículas de EJA é de 33,7%, com a perda de 1,67 milhão de alunos no período; o contingente de brasileiros que são potenciais alunos de EJA (analfabetos, alfabetizados rudimentares, pessoas de 15 a 65 anos que não completaram o ensino médio) é de cerca de 40% dos brasileiros dessa faixa etária, o que beira os 50 a 60 milhões de cidadãos.

Ou seja, deliberadamente, esse grande contingente populacional tem sido obstado de fazer parte do processo de escolarização. É sabido que, em especial para as populações de 30 ou 40 anos em diante, a oferta para estudar deve atender a condições especiais, em função de muitas dessas pessoas trabalharem, muitas vezes na zona rural, e terem mais dificuldades em termos de horário. Muitas delas também não querem se expor, sentindo-se mais confortáveis em escolas ou espaços especialmente destinados a seus pares.

Por causa desses fatores, a oferta demanda mais estudos, a preparação dos professores – que hoje praticamente inexiste – deve atender a aspectos particulares, assim como os objetivos educacionais e os materiais a serem utilizados.

Estados e municípios são os entes que mais se responsabilizam pelas matrículas, até mesmo porque elas estão no âmbito do ensino fundamental e do ensino médio, pelos quais são constitucionalmente responsáveis.

É nos estados que se verifica a queda maior, seguida pela rede privada e pelas municipais. De 2018 a 2019, as redes estaduais tiveram menos 10,8% de matrículas; as privadas, 5,13%; as municipais, 3,7%. A rede federal cresceu 9,96%, mas, dada a sua pouca extensão, isso representou apenas 1.300 matrículas a mais.

Acrescido a essa diminuição, outro fenômeno vem se verificando com a EJA: o que é chamado de “juvenilização” da etapa, que ocorre em função de haver um movimento – obviamente não assumido e não declarado, mas constatado por diversos pesquisadores – de uma quase expulsão dos alunos considerados problemáticos (com grande distorção idade-série, mais velhos, pouco integrados), para que deixem o ensino fundamental regular tão logo atinjam os 15 anos.

Isso faz com que haja muitos alunos jovens na EJA e que ela atenda mais a esse perfil do que as pessoas que já deixaram a escola há mais tempo, tornando a oferta ainda mais complexa.  

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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