Jovens são vítimas da automatização do trabalho

Segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho, faixa etária entre os 15 e os 24 anos é mais prejudicada com a adesão de empresas à tecnologia

Foto: Patricia Jekki/Iso Republic

Texto publicado em 12/03/2020

A automatização de diversas funções no universo do trabalho constitui uma barreira a mais para a entrada dos jovens no mercado. É o que atesta o relatório “Tendências Globais de Empregos para Jovens”, lançado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no último dia 9 de março.

Segundo o estudo, os jovens entre os 15 e os 24 anos constituem o grupo de maior risco em relação à perda de funções laborais em decorrência da automatização trazida pela tecnologia. Essa ameaça aos postos de trabalho se verifica tanto nos 31 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) pesquisados em seção do relatório, como em outros 12 países de média e baixa renda que também participaram do levantamento. O Brasil não está incluso. Entre os 12 países, há dois sul-americanos: Bolívia e Colômbia.

A partir dos 25 anos há declínio do risco até por volta de 45 anos na OCDE e 50 anos nos outros países. Esse maior risco de não conseguir trabalho se explica pelo fato de que, tradicionalmente, a porta de entrada de várias ocupações são aquelas funções mais repetitivas, que exigem menos discernimento do trabalhador. Elas servem para que novos profissionais passem a conhecer os processos de trabalho, aprendam a dinâmica de funcionamento de sua área e ocupação.

Um caso clássico são as petições mais simples em escritórios de advocacia, aquelas cujo texto-base costuma ser o mesmo, mudando apenas o nome dos envolvidos, seus dados pessoais e uma ou outra circunstância de contexto. Hoje em dia, principalmente nos escritórios maiores, há necessidade de um número bastante reduzido de pessoal para exercer essas funções, pois há diversos documentos padronizados que são preenchidos apenas com as poucas variáveis mencionadas acima.

A segunda faixa mais ameaçada pela tecnologia é a dos mais velhos, a partir dos 45 anos na OCDE e dos 50 anos nos outros 12 países. A diferença, provavelmente, se deve à maior carência desses países em mão de obra qualificada.

Educação e automatização

A pesquisa também indica que a formação superior ajuda a minimizar os riscos da automação. Dois padrões foram verificados com relação a isso: a universidade em formato tradicional facilita a entrada em empregos menos automatizados e a educação profissional aumenta as chances de conseguir um emprego no universo mais automatizado, mas mesmo assim traz risco.

A formação em nível superior reduz em 8,8% nos países da OCDE e em 8,6% nos de média e baixa renda o risco em relação à automatização. Esses profissionais têm mais chances de conseguir empregos menos automatizados, que exigem mais discernimento ou criatividade, além de um maior repertório cultural.

Já a educação profissional corre mais riscos na busca por trabalhos automatizados (2,5% e 2,3% mais riscos, respectivamente). Segundo o relatório, essa conclusão é compatível com estudo anterior, que apontava a obsolescência mais rápida das competências adquiridas na educação profissional do que aquelas da educação formal tradicional.

No entanto, o relatório aponta a necessidade de novos estudos nesse sentido, pois há certo consenso do papel positivo da educação profissional em algumas circunstâncias, em especial em países como Alemanha e Dinamarca, conhecidos pelo ensino dual, com grande aproximação entre escola e indústria. Nesses países, a educação profissional é uma grande porta de entrada para os jovens no mercado de trabalho. O relatório não diz, mas o difícil é estruturar o diálogo escola-indústria da mesma forma que esses dois países o fazem. Ou seja, com uma tutoria profissional treinada e um acompanhamento muito próximo do educando, além de remuneração.

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Curtas

  •   Teve início em 29/06  a websérie “Caminhos do Devir – Volta às aulas pós-Covid-19”, com o debate sobre “Como aplicar a gestão de crises para planejar a volta às aulas de forma segura”. Os educadores e sócio-fundadores da Devir Projetos Educacionais, Luis Laurelli e Eloisa Ponzio, além do consultor Flávio Schmidt, consultor em gestão de crises do Grupo Trama Comunicação, analisaram as estratégias, cuidados e precauções para garantir uma volta às aulas que possa assegurar a saúde de professores e crianças e a tranquilidade das famílias. A conversa teve a mediação do editor do Trem das Letras, Rubem Barros. O encontro marcou também o lançamento do e-book “A Covid-19 nas escolas e o caminho para a retomada do presencial”, disponível para download, que pontua sobre os passos da retomada.  Texto publicado em 25/06/2020

  • O ano de 2020 marca o final do mandato de 12 dos 24 conselheiros do CNE, o Conselho Nacional de Educação. A primeira lista com sugestões de substitutos, deixada pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, provavelmente na correria a caminho do aeroporto, era composta principalmente por olavistas. Gerou resistência até dentro do próprio governo Bolsonaro. Diante do freio, puxado pelos militares, o ministro interino, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, está fazendo uma nova rodada de discussão para a escolha de outros nomes.  A Casa Civil será um dos principais interlocutores para definir a lista final. Se o padrão das escolhas continuar o mesmo de outras áreas, é provável que as escolas cívico-militares ganhem fôlego inaudito. Texto publicado em 25/06/2020

  • Além do Fundeb, é preciso ficar de olho na possível votação da Medida Provisória 934, que estabelece normas de excepcionalidade para a educação básica e superior em 2020. O relatório da deputada Luísa Canziani (PTB/PR) manteve entre as emendas que devem ir a plenário a liberação da obrigatoriedade do cumprimento das 800 horas para a educação infantil e de oferta da educação a distância na mesma etapa. A relatora deixa a decisão nas mãos dos gestores municipais. Além de contrariar todas as evidências científicas e pedagógicas que enfatizam os prejuízos da educação a distância para as crianças de até 5 anos, a medida pode significar a abertura da porteira para os grupos privados que atuam no negócio da educação a distância. Com as redes de ensino sufocadas pela falta de dinheiro, com aumento das despesas por causa da pandemia e queda na arrecadação de impostos de até 24%, impactando diretamente no Fundeb, principal fonte de recursos para a educação básica pública, a EAD pode ser vista por muitos como solução milagrosa. Mas será apenas um instrumento para cumprir a obrigação legal de oferta de ensino. E inadequado, no caso da educação infantil. É preciso ver o que falará mais alto, se o rigor burocrático ou o bom senso. Texto publicado em 25/06/2020

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